quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Diálogo com Emma Goldman

Eu só quero ser eu mesma, Emma. Poder lutar pelos meus direitos e me juntar aquelas/es que estão a margem, excluídos de seus direitos também. Mas por isto, sou julgada e mal vista, simplesmente por querer um mundo melhor e justo para todos os seres humanos.
Escolhi minhas bandeiras. Sou uma pessoa que defendo com unhas e dentes meus ideais. Mas estou em uma época que não se pode ter ideais, a não ser o ideal de se dar bem e ganhar muita grana para poder ser considerada gente! E foi com vocês, Emma, e tantas outras mulheres libertárias, que aprendi a ser assim, nem tão forte quanto vocês, mas sempre defender o que pensa e lutar até o ultimo momento pelo o que você acredita.
Imagino que na sua época não tenha sido nada fácil. Hoje dizem que para nós mulheres a situação está bem melhor. Bom, para algumas sim, mas para a grande maioria, os problemas só aumentaram. E muitas vezes, nem estamos unidas. Apenas falamos, falamos, mas na prática é difícil, nos momentos difíceis, encontrarmos aquela força e defesa de outra mulher em relação a sua própria luta. Muitas vezes é só falácia. Ah, Emma, como eu teria muita coisa para dizer aqui... mas preciso ser comedida se quiser continuar tendo o pão de cada dia.
Sei que vc e todas as libertárias pagaram o preço alto pela verdade de ser. Mas também pagamos outros preços por querermos defender nosso pão de cada dia. Você e Louise Michel sabem bem disso, não é? Tem momentos que me sinto sufocada, sozinha, isolada, usada... é horrível ter que fazer cenas. Aprendi a representar.
As/os trabalhadores/as não são como antes. Viraram profissionais a busca de dinheiro para poder dar continuidade a seus projetos. Ou simplesmente se uniram ao patrão, mesmo que digam que não e formem sindicatos e centrais de trabalhadores/as, mas na verdade fazem acordos secretos e sem cerimônia, até podem entregar “a/o companheiro/a” se o seu estiver na reta. É, Emma, esta é a lógica que permeia a sociedade de mercado, a sociedade capitalista atual.
Mas falar isto, sociedade capitalista, é algo ultrapassado nos dias de hoje, viu?!. Afinal, o capitalismo traz muita felicidade! HAHAHAHAHA!! É isto que dizem as pessoas. E se for preciso, se uma amiga ou amigo estiver passando por apuros, mas o importante for galgar postos mais altos ou se o/a patrão/ao chamar primeiro, vc já imagina quem será socorrido, né? Não é a toa que a depressão atinge uma parcela considerável da população, e nesta loucura diária que tem se tornado meu dia a dia e o de milhões de trabalhadores/as nem percebemos quando o/a outro/ precisa de nós. Quando nos damos conta pode ser tarde demais...E agora tem a tecnologia que aproxima os seres humanos; mas por outro lado os afasta consideravelmente, ao ponto de quando nos encontramos pessoalmente com uma pessoa que seguimos no facebook (não se assuste com este palavrão, Emma, é uma rede de relacionamentos na internet, ta?) nem a cumprimentamos direito, abraços e beijo nem pensar, afinal já falamos com ela há poucos minutos virtualmente. O calor humano já era! A vida humana em si já era, nada representa atualmente. A mídia noticia assassinatos como quem informa a queda e alta da bolsa de valores. Cotidiano.
Bom, querida Emma, você continua sendo inspiração para mim! Obrigada por ler meu desabafo. Meus/minhas amigas/os já estão cansadas de ouvir-me, creio eu. Por isto, precisei falar com vc, afinal sei que terás palavras especiais para me dizer que me farão continuar lutando pelo o que acredito, seguindo em frente, mesmo que as pedras sejam grandes demais para removê-las. As vezes, me calo para ser compreendida, entendes?
Paz entre nós, guerra aos senhores.
Senhora A.K.Q.J-10


Fonte da imagem: MICROCOSM PUBLISHING

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